segunda-feira, 9 de abril de 2012

A influência da tecnologia e da ciência nos esportes olímpicos e paralímpicos


A influência da tecnologia e da ciência nos esportes é um assunto que ainda levanta muita discussão entre os leigos, as pessoas que acompanham e, principalmente, os especialistas no tema. Isso porque, apesar da importância da utilização desses recursos para o aprimoramento e orientação dos trabalhos dos atletas visando à melhoria do rendimento, ainda enfrenta resistências, principalmente por parte dos técnicos e dos preparadores físicos.

Por outro lado, há grupos específicos e entidades que estudam, defendem e desenvolvem novas técnicas para melhorarem o rendimento de atletas e equipes esportivas. O NAR-GPA (Núcleo de Alto-Rendimento do Grupo Pão de Açúcar) é um grupo brasileiro específico que tem como objetivo oferecer um maior suporte técnico e científico ao esporte brasileiro na preparação dos atletas olímpicos e paralímpicos, e, além disso, não possui nenhum fim lucrativo.

Núcleo de Alto-Rendimento (Grupo Pão de Açúcar)

Para isso, conta com equipe especializada e estrutura moderna, que dispõe de um centro de pesquisas e treinamentos especializados, que, por sua vez, se divide em duas vertentes: O CAR (Centro de Alto Rendimento), que detecta talentos, faz avaliações de desempenhos e realiza consultorias especializadas para diferentes modalidades esportivas; e o CES (Centro de Estudos Superiores), que investe na capacitação dos treinadores e preparadores físicos.

Sala para avaliações de força, potência e velocidade

O diretor técnico do NAR-GPA, Irineu Loturco Filho, explica que um dos objetivos do núcleo é realizar uma conscientização dos profissionais quanto a importância desse acompanhamento. "O principal objetivo não é substituir os técnicos e preparadores físicos e nem desvalorizar o trabalho deles, muito pelo contrário, é dar apoio e suporte para eles, aprimorar e melhorar as técnicas e treinamentos feitos, deixando-os ainda mais eficazes, para que os atletas possam alcançar melhores resultados".

Os testes e estudos são feitos de acordo com cada atleta, com cada necessidade percebida. "Realizamos uma bateria de testes para detectar os pontos que podem ser melhorados a aperfeiçoados. Ao final de tudo não entregamos um relatório para os técnicos e preparadores físicos apenas, nós conversamos com eles, apontamos o que pode ser melhorado, apresentamos as razões e comprovamos como chegamos nelas. Além disso, a equipe técnica do atleta acompanha tudo de perto", afirma Filho.

Pista para avaliações do atletismo

Outro ponto interessante é que, ao contrário do que muitos pensam, o núcleo não atende somente atletas patrocinados pelo Grupo Pão de Açúcar, mas também todos os atletas que representem a seleção brasileira ou a delegação brasileira das modalidades olímpicas e paralímpicas. Além do mais, atende várias categorias, da juvenil até a adulta. "As exceções são o Rugby e o MMA, que não fazem parte das Olimpíadas, mas começamos projetos com eles também e até agora vem dando certo".

Espaço destinado para o treinamento de saltos com vara

"Recebemos atletas todos os dias, de diferentes categorias e modalidades, com suas respectivas equipes técnicas. O legal é que eles aprovam os resultados e reconhecem a importância dos trabalhos. A partir daí, nossa principal divulgação é o 'boca a boca', pois os próprios atletas e treinadores recomendam para outros colegas", completa Irineu.

Paralimpíadas

Como já mencionado acima, os atletas paralímpicos também são recebidos pelo Núcleo de Alto-Rendimento. A Seleção Brasileira Paralímpica foi avaliada pelo núcleo no último dia 29 de fevereiro e no dia 1 de março. No dia 29, os velocistas fizeram avaliações de tempo de reação, velocidade e saltos. No dia 1, os arremessadores, saltadores e fundistas realizaram avaliações de potência, tensiomiografia e de saltos.


Seleção Brasileira Paralímpica realizando testes no núcleo




Quando o assunto é treinamento não há problemas, ma, assim como ocorre nas modalidades com atletas que não possuem deficiências, as especialidades paralímpicas também levantam discussões quando o assunto é a utilização da tecnologia e da ciência para beneficiar as competições paralímpicas. Márcio Andraus, advogado de desportos, lembra que nesse caso é necessário avaliar o regulamento de cada modalidade, ou seja, das 29 modalidades paralímpicas.

"Neste aspecto, a questão do regulamento é fundamental. Em regra, cada competição/modalidade paralímpica possui uma enorme compleição de normas e parâmetros para o uso de próteses, cadeiras, acessórios, apoios, etc. No mesmo sentido, todos estes materiais devem estar enquadrados em especificações técnicas pré-aprovadas, sob pena de eliminação. E a questão chega a tal exagero que, por exemplo, o uso de “graxa” ou algum material que diminua em excesso o atrito das rodas de uma cadeira, se estiver em desacordo com a especificação técnica da modalidade, pode gerar a eliminação do competidor", afirma o advogado.


Polêmicas

Por outro lado, também há as controvérsias. O exemplo mais famoso disso ocorreu em 2008, quando o para-atleta Oscar Pistorius, que há foi considerado o atleta mais rápido do mundo (chamado de "homem biônico) que não tem as duas pernas (devido a uma má formação abaixo dos joelhos) pediu para a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) para competir com atletas olímpicos nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 e isso gerou polêmica.

Tudo começou em 2004, ano em que Oscar começou no atletismo. Oito meses depois foi para as Paralimpíadas de Atenas, onde Oscar conquistou prata nos 100 m rasos e ouro nos 200 m. De lá para cá conquistou muitas medalhas e recordes e recebeu um convite da IAAF, em 2007, para participar do Meeting de Atletismo de Roma, na Itália, e correr ao lado de atletas convencionais. Pistorius ficou em 2° lugar nos 400 m rasos e os holodotes voltaram-se para ele, o que fez o para-atleta sonhar alto e pediu para participar das Olimpíadas de Pequim, em 2008, com os atletas convencionais.

Com isso, a IAAF decidiu analisar suas próteses para verificar se elas violariam a regra 144.2 do Livro de Regras da IAAF, que proíbe o uso de qualquer dispositivo técnico que incorpore molas, rodas ou qualquer outro elemento que dê ao usuário qualquer vantagem sobre outros atletas que não usem tal dispositivo.

Após o estudo, a IAAF informou que ele perde 9,3% de energia nas próteses usadas enquanto um atleta convencional perde 41,1% de energia no tornozelo. Concluiu-se que ele leva ao menos 25% de vantagem até dos atletas que não usam próteses, pois possui próteses feitas de fibras de carbono com assistências mecânicas e fisiológicas que o beneficiam. Para piorar, o proibiu de correr qualquer evento com atletas que não sejam paralímpicos.

Pistorius recorreu da decisão em fevereiro de 2008, com total apoio do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). em 29 e 30 de abril, houve uma audiência na Suíça e em 16 de maio Oscar foi absolvido pelo TAS/CAS, que considerou as provas da IAAf insuficientes e cancelou a proibição para competições convencionais, enfatizando inclusive que ele poderia participar das Olimpíadas de 2008, desde que conseguisse bater o índice olímpico de 45 seg e 95.

"Em verdade, ele foi absolvido e liberado para correr porque os experimentos feitos pela IAAF em Colônia-ALE não conseguiram apontar se o uso de tais próteses lhes gera mais vantagens ou desvantagens. Para a prova dos 400m, por exemplo, ele tem nítida desvantagem em relação aos atletas “normais” até 200m e, após, na parte final, aceleração, em gritante oposição aos demais atletas. Como os experimentos não conseguiram comprovar se isso leva a mais vantagens ou desvantagens na análise geral da prova (e também em razão da discutível forma como foi realizada a votação pelo Conselho da IAAF), a apelação de Pistorius foi procedente e ele passou a ser considerado elegível para a disputa de provas oficiais da IAAF", diz Andraus.

Pistorius teve algumas chances, mas a última delas foi em 16 de julho de 2008, em Lucerna (na Suíça), onde diminuiu em 11 centésimos sua marca pessoal (46 seg 55), mas ficou longe do índice.

Márcio ressalta que a decisão do TAS/CAS
deixa expresso que este julgado é específico para o caso do atleta Oscar Pistorius, não servindo como parâmetro para qualquer outro atletas, qualquer outra prótese, ou mesmo para a própria “Cheeta”, como é conhecida a prótese utilizada por Pistorius. "Isto porque cabe a cada federação internacional analisar caso a caso a existência ou não de vantagem pelo uso de equipamentos/elementos estranhos", conclui o especialista.

Oscar Pistorius